O C2 Montréal é um dos principais eventos internacionais com foco em novos negócios, criatividade e inovação. E se por falar de inovação você acha que a tecnologia esteve no centro de tudo, vai se surpreender. O foco é conteúdo inspirador, relacionamento entre as pessoas e as ideias que isso gera. Só o aplicativo do evento contabilizou 70 mil contatos trocados em três dias, envolvendo os cerca de 7 mil participantes.
“O C2 é um catalisador. Reúne gente com o propósito de transformar suas carreiras, seus pensamentos e sua relação com o mundo”, disse Rodrigo Faustino, da Abedesign, parceira na organização da segunda missão da CCBC enviada ao encontro de Montreal. No ano passado, a delegação contou com 12 integrantes. Em 2019, esse número dobrou, incluindo profissionais de Porto Alegre, São Paulo, Campinas e Belo Horizonte.
Essa mescla de experiências que vêm acontecendo no mundo inteiro, recheada por altas doses de criatividade, serve de inspiração para os novos rumos das marcas brasileiras. Em maio de 2018, por exemplo, a Klabin esteve no C2. Apenas quatro meses depois, organizou o Inova Klabin, um evento interno para se reposicionar no universo da inovação.
“Não teve nenhuma palestra sobre criatividade no mercado do papel e celulose. O Inova Klabin foi inspirado por essa atmosfera de networking, novidades e muito conhecimento”, destacou Tiago Belotte, fundador da Coolhow, empresa de inteligência criativa que produziu um relatório de tendências identificadas no evento. A Klabin, claro, voltou ao C2 este ano.
De Spike Lee a um edifício que suga a poluição do ar
A edição de 2019 teve como tema “o amanhã” e, assim como nas versões anteriores, valorizou projetos que buscam impacto, convidando o público à ação, já que somente ter ideias espetaculares não basta.
“Eu me dedico a problemas sem a pretensão de resolvê-los por inteiro. Desejo dar pelo menos o primeiro passo em busca da solução definitiva e provocar reflexões”, explicou o artista holandês Daan Roosegaarde, que mantém um estúdio de design pioneiro em iniciativas para tornar o mundo um lugar mais habitável.
Uma delas deriva do conceito de Protopia, criado pelo fundador da revista Wired, Kevin Kelly. O termo une as palavras protótipo e utopia, em referência a projetos reais aperfeiçoados diariamente. Assim nasceu o Smog Free Projects, conjunto de campanhas cujo maior símbolo é uma torre chinesa de 7 metros que funciona à base de pouca eletricidade. A construção purifica 30 mil metros cúbicos de ar por hora e melhora a qualidade do ar ao seu redor.
O C2 foi muito além de sustentabilidade e meio ambiente. Entre os palestrantes estiveram o cineasta Spike Lee; a ex-VP Sênior de Varejo da Apple, Angela Ahrendts; a presidente do Google Canadá, Sabrina Geremia; a CMO da Endeavor, Bozoma Saint John; e o fundador do Cirque du Soleil, Guy Laliberté. Em debate, tópicos como:
- Inteligência artificial
- Clima e sustentabilidade
- Economia circular
- Viés e desigualdade
- Organizações centradas nas pessoas
- Máquina x Seres humanos
- Branding 5.0
- Chief Executive Changemaker
As cabras também fazem yoga
A maior mídia social do planeta marcou presença no C2 e não falou de mídias sociais o tempo todo. Muito pelo contrário. Uma das atividades promovidas pelo Facebook que mais chamaram a atenção dos integrantes da missão brasileira foi o goat yoga – sessões de yoga em que os participantes dividiam o espaço com cabras e tudo o mais que pode derivar dessa inusitada experiência.
Se na tecnologia tudo (ou quase tudo) passa a ser previsível, o C2 investiu na desautomatização do olhar e nos acasos. Ao ceder uma cadeira livre próxima à área de alimentação, um participante da missão da CCBC estava na verdade dando lugar a uma das diretoras do Cirque du Soleil, marca que, em conjunto com a agência de branding Sid Lee, organiza o evento. O gesto altruísta se tornou uma excelente oportunidade para a troca de ideias.
Nem tudo, porém, é acaso. O que existe é muito planejamento, como no uso de uma das principais ferramentas para promover encontros no C2, os chamados Braindates, combinados por meio do aplicativo do evento, o Klik. Dois integrantes da missão da CCBC estiveram entre as 15 pessoas que mais efetivaram contatos no evento por meio da plataforma.
Confira alguns dos principais insights do C2 Montreal 2019:
MÁQUINAS E SERES HUMANOS
“Automação ‘não é como ter um Einstein’. É como ter bilhões de estagiários que tomam muitas decisões, mas nem todas as decisões são claras para as máquinas. Os seres humanos ainda serão fundamentais para fornecer discernimento, julgamento e criatividade”. (Sabrina Geremia – Presidente Google Canadá)
“Empregos que não podemos imaginar estão ao virar da esquina. Isso é o que eu espero. Eu não quero viver com medo do que eu sei que está chegando”. (Will.i.am – músico e profissional criativo)
O FUTURO DA TECNOLOGIA
“Em frases sobre tecnologia, você é o sujeito ou o objeto? Se você acredita que a tecnologia é moldada por seres humanos, você pode participar do jogo e tem um caminho promissor pela frente”. (Jameson Wetmore – professor associado da Universidade do Arizona)
“Não podemos desconectar a tecnologia da imaginação. Se não podemos imaginar como queremos que o futuro pareça, não podemos chegar lá”. (Daan Roosegaarde, artista e inovador)
BRANDING 5.0 CONECTAR
“Algumas das marcas mais poderosas de hoje são feitas por pessoas para pessoas e não por consultorias de branding para consumidores”. (Debbie Millman – Consultora de marcas)
“Preferimos estar conectados e famintos do que comer e estar sozinhos”. (Debbie Millman – Consultora de marcas)
MARCAS E VULNERABILIDADE
“Eu poderia ter escolhido a rota segura – jeans e uma blusa preta de gola rolê. Em vez disso, eu decidi aparecer como uma mulher negra inteira. Com meu cabelo do jeito que deveria ser, com um vestido rosa que abraça cada curva, e eu toquei uma música que era pessoalmente ligada a mim. Poderia ter dado errado. Mas ao invés disso, encontrei uma conexão”. (Bozoma Saint John – CMO Endeavor)
FAÇA A DIFERENÇA
“Pare de falar, faça alguma coisa. É melhor fazer menos do que é mais significativo do que fazer muito de algo pouco significativo”. (Marc Blanchard – Diretor Global de Design de Experiências do Grupo Havas)
“Você não precisa de um milhão de seguidores para ter um ponto de vista ou uma equipe de 600 pessoas para influenciar a mudança”. (Bozoma Saint John, (CMO Endeavor)
APRENDIZADO CONTÍNUO
“Houve um tempo em que pensávamos que você poderia adquirir algumas habilidades, entrar em um emprego e essas seriam as habilidades que serviriam para toda sua carreira e você iria para a Flórida. Isso não vai acontecer mais”. (Sabrina Geremia – Presidente Google Canadá)
“Você sempre cometerá erros. Se não está cometendo erros, você não está aprendendo, e se você fugir de seus erros, então está se rendendo. Você não pode ser teimoso, você tem que ter uma mente aberta e não pode ter medo de errar”. (Will.i.am – músico e profissional criativo)
PEOPLE FIRST LEADERSHIP
“Verdadeiros líderes criam líderes. Escalabilidade é deixar ir e confiar nos outros”.
(Dax Dasilva – CEO da Lightspeed)
“Se você está numa posição de poder, você tem responsabilidade em colocar isso para bom uso”. (Spike Lee, cineasta – escritor e produtor)
COMPORTAMENTO
“Nesse novo mundo não há falta de dinheiro, nem de tecnologia, mas talvez a falta de imaginação”. (Daan Roosegaarde – artista e inovador)
“Eu não cheguei a um lugar de influência porque eu estava quieta. Nenhum de nós terá qualquer impacto ou influência se estivermos quietos. Então não fique quieto. Seja barulhento como o inferno”! (Bozoma Saint John – CMO da Endeavor)
As inscrições para a próxima Missão da CCBC no evento já estão abertas. A Missão deste ano foi realizada entre os dias 18 e 25 de maio e além do C2 envolveu visitas a projetos e empresas locais.