Inovação muito além da tecnologia

Integração entre inovação, sustentabilidade e diversidade no mundo corporativo foi defendida por líderes que participaram do Summit Brasil-Canadá 2024

Por Silvia Pimentel

A 2ª edição do Summit Brasil-Canadá trouxe à tona a discussão sobre a importância da gestão da inovação além de uma perspectiva tecnológica. Realizado pela Câmara de Comércio Brasil-Canadá (CCBC) em São Paulo, no auditório do escritório Pinheiro Neto Advogados, no dia 23 de outubro, o evento reuniu especialistas para compartilharem suas experiências nessa área. Como resposta às demandas de mercado, foi reforçada a importância da intersecção entre o novo, a diversidade e a sustentabilidade, como um caminho promissor para a longevidade dos negócios e a transformação da sociedade.

“Não há mais espaço para criar de maneira exploratória, sem a preocupação com o meio ambiente, nos dias de hoje. A inovação dever ser colaborativa, com as pessoas no centro das iniciativas, um ambiente seguro para receber ideias, além de uma liderança inspiradora”, ressaltou Roberta Demange, sócia do escritório Pinheiro Neto, na abertura do Summit.

Já para Denise Delboni, professora universitária, advogada e pós doutora em administração de negócios, é preciso encarar os principais entraves para a inovação das empresas brasileiras, que colocam o país na 49% posição entre os mais inovadores do mundo. “Muitas ideias são desperdiçadas pelo caminho por questões burocráticas”, afirmou, referindo-se aos problemas relacionados ao registro de patentes no Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI).”

Na visão de Delboni, a inovação deve estar na agenda das empresas e do governo para que o país ocupe posição um pouco melhor nesse ranking. “A inovação é um processo social. Então, é preciso colocar juntas as pessoas de diversos setores capazes de transformar ideias em realidade”, destacou.

O primeiro painel do evento “Estruture os processos para desbravar novos caminhos de inovação” contou com a participação de executivos de diferentes setores, que compartilharam as suas experiências sobre como implementar uma cultura inovadora no ambiente corporativo e como as organizações podem se adaptar e prosperar em um mundo em constante mudança.

Uma das painelistas, Bruna Tedesco, diretora de Novos Negócios e Inovação na Faber Castell Brasil, falou sobre a importância da inovação para a sobrevivência de uma empresa há 263 anos no mercado, e que ainda mantém a imagem de uma companhia “querida” por todos. “Estamos sempre preocupados com o futuro, com os próximos passos. E a companhia não teria chegado até aqui não fosse uma mentalidade extremamente inovadora da liderança para enfrentar a concorrência do mercado e um consumidor cada vez mais preocupado com o meio ambiente”, ressaltou.  

Além do engajamento e apoio da liderança, Tedesco enfatizou a importância da diversidade no time de inovação das empresas, pois tornam as discussões mais acaloradas e enriquecem o processo criativo. “É extremamente importante ter um time diverso, que tenha liberdade para falar e propor coisas diferentes.”

A opinião foi compartilhada por Bruno Lucena, gerente de Testes e Simulações da CNH Industrial, para quem a inovação é um grande e contínuo processo de aprendizado. “Acho importante identificar dentro das companhias pessoas que estão dispostas a aprender e a contribuir com esse processo”, destacou. 

Inteligência artificial e o bem-estar social

Na palestra “Da academia à Ação: Promovendo decisões justas e sustentáveis com recursos limitados”, a professora associada no Departamento de Computadores e Investigação Operacional da Universidade de Montreal, Margarida Carvalho, apresentou cases de inovação nas áreas de educação, saúde e sustentabilidade, que obtiveram êxito por usarem métodos de inteligência artificial e modelos matemáticos na resolução de problemas.

Durante a sua apresentação, a especialista explicou em detalhes como o uso das tecnologias ajudaram a resolver questões envolvendo a alocação de alunos nas escolas do Canadá frente à limitação de vagas, a redução da emissão de CO2 na província de Quebec por meio do aumento da infraestrutura para o uso de carros elétricos e a prioridade de doentes renais nos tratamentos e transplantes.

“A inovação é de extrema importância para a tomada de decisão. Em todos esses projetos, houve uma valorização, tratamento e exploração de dados já existentes para a definição de decisões acertadas e responsáveis, seja para promover o futuro de alunos nas escolas, seja na adoção de veículos elétricos ou para a justiça entre as pessoas que precisam de um tratamento médico”, destacou.

Investimentos, projetos e conexões

No segundo e último painel do evento, intitulado “Impulsionando a inovação e a geração de novas ideias”, os participantes abordaram como a inovação aberta pode transformar empresas e fomentar a colaboração entre diferentes setores, além da internacionalização das conexões, como a que acontece entre o Brasil e o Canadá por meio da Klabin.

“O Canadá tem uma indústria muito tradicional no segmento de papel e celulose e os nossos setores têm muito o que dividir”, disse Renata Freesz, head de Projetos e Inovação da Klabin, ao citar a existência de um projeto com a Universidade de Toronto centrado em químicos. Na visão da palestrante, essa troca é de extrema importância, já que no Brasil não existe uma relação tão forte entre empresas e academia, e muitas vezes esse setor é visto, de forma equivocada, como antigo, velho e alheio às tecnologias.

Sobre os investimentos em inovação e planos para o futuro, Caio Moriani, head de Corporate Venture Capital na Embraer, destacou os aportes da companhia em quatro empresas de drones para uso militar e de transporte de carga, um mercado em ascensão, além da estratégia da empresa em estudar o desenvolvimento desses mercados para direcionar recursos e identificar o caminho a ser seguido.

Também participaram do Summit 2024 o embaixador do Canadá no Brasil, Emmanuel Kamarianakis; Carlos França, embaixador do Brasil no Canadá; Ronaldo Ramos, diretor-presidente da CCBC, Jorge Zwingel, CEO e fundador da Rocketbase e CGO na Moonsshot Robots; e Gold Hyder, presidente e CEO do Business Council of Canadá.