Encontro discutiu como as empresas podem tornar seus ambientes de trabalho mais inclusivos, considerando as perspectivas das sociedades brasileira e canadense
Por Pedro Augusto
Apesar do aumento da conscientização sobre temas sociais, questões essenciais ainda permanecem à margem da sociedade. A Terceira Edição do Fórum de Diversidade, Equidade e Inclusão, promovido pela Câmara de Comércio Brasil-Canadá (CCBC), destacou os desafios enfrentados por múltiplas minorias, incluindo neurodivergentes e povos indígenas, evidenciando as discrepâncias entre o discurso público e as práticas no ambiente privado.
Um exemplo claro dessa lacuna é a participação das mulheres na política. Embora o tema receba atenção crescente, a realidade ainda está longe da igualdade, com barreiras estruturais e culturais persistentes.
A Embaixadora do Brasil e subchefe do Escritório de Representação do Itamaraty em São Paulo, Irene Vida Gala, trouxe à tona essa realidade ao afirmar: “Nós tivemos uma redução do número de mulheres nas câmaras legislativas de 55%. Isso é um escândalo. E os temas entre o público e o privado se conectam aqui. São pautas que se nutrem. É a partir do esforço público que nós vamos conseguir efetivamente que o espaço privado mude, e o espaço privado que entra dentro das casas das famílias. Porque, em última instância, o nosso esforço para a participação maior, o empoderamento da mulher, é a garantia da integridade física. Nós estamos falando de mulheres mortas todos os dias por feminicídio.”
A Equinox Gold, uma das principais produtoras de ouro das Américas, associada da CCBC e patrocinadora da Terceira Edição do Fórum de Diversidade, Equidade e Inclusão realizado pela Câmara, tem trabalhado fortemente nessa questão. O tema de Diversidade e Inclusão é parte central da estratégia global da empresa, e isso está fortemente presente em suas práticas de ESG. Nos últimos anos, a Equinox tem focado em promover a equidade de gênero, buscando aumentar a participação feminina desde os programas de ingresso na empresa, como o Jovem Aprendiz e o Programa de Estágio.
Em suas quatro unidades no Brasil, localizadas em Minas Gerais, Maranhão e Bahia, a empresa oferece oportunidades preferenciais para mulheres, com resultados significativos já alcançados em seus processos seletivos. A Equinox lançou oficialmente o Programa de Diversidade e Inclusão (SOU EQX) no Brasil em 2022, visando desconstruir barreiras e reforçar a representatividade feminina na mineração.
De acordo com o Mapa da Violência 2021, o Brasil registrou, em média, 13 assassinatos de mulheres por feminicídio a cada dia, destacando a urgência de políticas públicas para proteger as mulheres. A situação se agrava para as mulheres trans, que enfrentam não apenas o machismo, mas também preconceitos relacionados à sua identidade de gênero. O fórum proporcionou um espaço essencial para discutir essas e outras questões, incluindo a necessidade de políticas que garantam uma inclusão efetiva.
“Nós, pessoas de grupos historicamente marginalizados, não temos o privilégio de sermos indivíduos. Nós somos o coletivo. Então, querendo ou não, as pessoas vão projetar, especialmente por sermos as primeiras, toda a comunidade trans no que eu faço. Então a gente não pode errar,” afirmou Vicky Napolitano, Líder Inovadora em Pessoas e Cultura na Pismo.
Outro ponto de destaque foi a discussão sobre neurodivergência, com foco nas dificuldades enfrentadas por pessoas com autismo. Muitas empresas ainda exigem habilidades de comunicação e interação social que podem não ser atingíveis para essas pessoas, criando barreiras significativas à inclusão profissional. O fórum ressaltou a importância de adaptar as exigências do mercado para contemplar a diversidade de capacidades.
“A neurodiversidade traz a ideia de que não existe um cérebro igual ao outro. Somos todos neurodiversos, com diferentes habilidades, e algumas pessoas se afastam mais do padrão considerado típico. Ao falar de neurodiversidade, não nos referimos apenas ao modelo biomédico, mas a um modelo social que busca reduzir barreiras e promover acesso para essas pessoas,” explicou Rute Rodrigues, Diretora de Operações na Specialisterne Brasil.
O debate também destacou que a inclusão não se limita a minorias tradicionais. Muitas pessoas que não se identificam como parte de um grupo marginalizado podem, em algum momento, vivenciar a exclusão. O preconceito por idade, conhecido como etarismo, afeta principalmente homens e mulheres a partir dos 60 anos, que frequentemente se sentem invisíveis no mercado de trabalho, enfrentando dificuldades para se manter ativos, mesmo sendo qualificados.
Segundo uma pesquisa da Associação Brasileira de RH (ABRH), 63% dos profissionais acima de 50 anos se sentem discriminados no ambiente de trabalho, o que reforça a necessidade de uma discussão mais aprofundada sobre a inclusão de todas as idades.
“O etarismo, por definição, é qualquer preconceito baseado em idade. Quando você fala pra alguém que é muito novo pra ser promovido ou muito novo pra ter uma liderança, isso também é etarismo. É uma forma como a gente pensa o nosso estereótipo, como a gente sente o nosso preconceito, como a gente manifesta a discriminação,” disse Pedro Pitella, Head de People & Cultura da Sanofi Brasil.
Inclusão dos povos indígenas no Canadá
O fórum também trouxe exemplos internacionais, como o caso do Canadá, que está avançando na inclusão dos povos indígenas, um tema raramente discutido no Brasil. No Canadá, há programas governamentais, por meio do Department of Crown-Indigenous Relations and Northern Affairs e do Indigenous Services Canada, que visam incentivar a inclusão dessa população em diversos setores, promovendo equidade e reparação histórica. Iniciativas desse tipo podem servir de exemplo para países como o Brasil, que ainda não contemplam adequadamente a diversidade de sua população indígena em políticas de inclusão.
“No Canadá, os povos indígenas estão crescendo a uma taxa cinco vezes maior do que a população não indígena. Somos o segmento populacional mais jovem e de crescimento mais rápido no país, e isso não está mudando. Está ganhando velocidade. Estamos começando negócios. Especificamente, as mulheres indígenas estão iniciando negócios a uma taxa nove vezes maior do que a média nacional, o que significa que estão colocando dinheiro de volta na economia indígena, capacitando a próxima geração e criando oportunidades para os jovens se verem representados em espaços onde nunca fomos bem-vindos,” disse Mallory Yawnghwe, Fundadora e Co-CEO da Indigenous Box Inc.