Processo de transformação digital no campo abre oportunidades para startups brasileiras desenvolverem soluções para clientes canadenses
Por Sérgio Siscaro
Uma verdadeira revolução está acontecendo no campo. O emprego cada vez mais disseminado de soluções inovadoras e disruptivas, que têm sido comuns em diversas áreas de atividade, também fazem a diferença na agropecuária – e contribuem para conferir mais inteligência, eficiência e redução de custos à produção de alimentos. Nesse contexto, as agtechs, agrotechs ou agritechs, que são as startups especializadas em desenvolver tecnologias que contribuam para dar mais competitividade ao setor, têm um papel fundamental.
Dada a importância do setor agropecuário para sua economia, o Brasil é um dos países que tem se destacado no desenvolvimento de tecnologias inovadoras no campo. Tanto é assim que, de acordo com dados recentes da Associação Brasileira de Startups (ABStartups), de um universo total de 13,7 mil startups em atividade no país em outubro, 3,65% delas são agritechs.
Com a finalidade de mostrar a essas startups as oportunidades para oferecerem suas soluções no mercado canadense, o Ministério das Relações Exteriores, por meio setor de Promoção de Ciência, Tecnologia e Inovação (Sectec) da Embaixada do Brasil em Ottawa e em parceria com a CTRS Solutions, lançou em setembro o relatório Mercado de Agritechs no Canadá: Marco Regulatório e Oportunidades. O documento, disponível para download, trata de aspectos regulatórios agrícolas e tecnológicos canadenses e mapeia as oportunidades de cooperação e de negócios para empresas brasileiras que desenvolvam tecnologias agrícolas inovadoras naquele país. Em 6 de outubro, a embaixada realizou um webinar sobre o estudo, também disponível na internet.
Espaço para novos players
O estudo analisa as principais características do mercado agrícola canadense, as diversas regiões no país que se destacam e a utilização de soluções tecnológicas para aumentar a produtividade agropecuária – definidas no documento como “novos métodos, processos ou dispositivos usados para melhorar a produção agrícola, lucros, eficiência ou maior sustentabilidade”. Ao se aprofundar sobre o mercado de agritechs no Canadá, o relatório salienta que as startups canadenses que atuam nesse segmento levantaram apenas 3,4% dos financiamentos, em dólar, disponíveis em 2018 (US$ 577 milhões), respondendo por 3,4% do fluxo de negócios. Como comparação, nos Estados Unidos as agritechs levantaram 48% de financiamento e 39% do fluxo de negócios. “O Canadá fica para trás em investimentos na região e isso sugere que há amplo espaço para crescimento no mercado”, avalia o levantamento.
Mesmo assim, o relatório da embaixada deixa claro que o Canadá abriga algumas das agritechs mais destacadas no mundo, que atuam nas áreas de genética e reprodução, gerenciamento de fazendas, proteção de safras e nutrientes, maquinário e robótica, irrigação e gestão da água, sistemas de cultivo e soluções para conectar a fazenda ao consumidor final, entre outras áreas.
Ecossistema de inovação
Também é dada atenção ao sistema de incentivo à inovação canadense, que permite o desenvolvimento das agritechs em um ecossistema formado por investidores, incubadoras e aceleradoras, e universidades e centros de pesquisa. Além disso, programas federais apoiam a inovação no campo, como é o caso do Innovation, Science and Economic Development Canada (Ised), do Agri-Food Table, da Innovation Superclusters Initiative, do Agriculture and Agri-Food Canada (AAFC) e da Canadian Agricultural Partnership.
O desenvolvimento de tecnologias limpas, que contribuem para se atingir uma economia com baixo uso de carbono, também são objeto de iniciativas do governo do Canadá, apoiando soluções que reduzam a emissão de gases de efeito estufa e aumentem a eficiência energética. É o caso, por exemplo, da Living Laboratories Initiative, que reúne agricultores, cientistas e outros colaboradores para desenvolver tecnologias voltadas à mitigação e adaptação às mudanças climáticas, à redução da contaminação da água e ao aumento da biodiversidade.
Clientes potenciais
De acordo com o relatório, alguns segmentos tendem a concentrar a maior parte da demanda canadense por soluções tecnológicas desenvolvidas por agritechs. Isso ocorre porque os usuários finais – agricultores e produtores – geralmente adquirem esses produtos ou serviços diretamente de distribuidores e fornecedores de sua confiança.
Dessa forma, os segmentos-chave seriam aqueles formados por atacadistas, distribuidores e intermediários; fornecedores; empresas de telecomunicações; e grandes produtores.
Operações no Canadá
A partir de entrevistas com diversos especialistas, o relatório produzido pela embaixada brasileira em Ottawa estabeleceu algumas considerações para agritechs brasileiras que estejam interessadas em expandir suas operações para o mercado canadense. São salientadas a necessidade de se estabelecer uma subsidiária no Canadá, assim como de travar relacionamentos com fornecedores (especialmente parcerias de canais), participar de feiras de negócios, utilizar incubadoras ou aceleradoras, e se preparar para o processo de ingresso no mercado – que envolve desde a imigração e obtenção de autorizações de trabalho até se inteirar dos requisitos regulatórios, federais e provinciais.