A ampliação de projetos conjuntos, a promoção de investimentos e o contato próximo com a comunidade empresarial estão na pauta do diplomata para intensificar ainda mais a relação bilateral
Por Estela Cangerana
O Brasil já é o maior parceiro comercial do Quebec na América do Sul, além do sétimo maior fornecedor internacional da província, que recebeu 40% de tudo o que foi vendido pelo País ao Canadá em 2020. Ainda assim, há muito espaço para expandir as relações e investimentos bilaterais. Essa deve ser uma das missões do novo cônsul-geral do Brasil em Montreal, o embaixador Nedilson Jorge, à frente da representação brasileira para o Quebec e províncias do Atlântico desde dezembro de 2020.
Ao lado da exploração da grande vocação comercial, o diplomata também está atento às possibilidades de intensificação da cooperação tecnológica e científica, além das muitas oportunidades nos campos educacional e cultural.
“Apesar deste período de grandes desafios, acredito que as relações entre o Brasil e Quebec se encontram em momento muito promissor. A importância do Brasil, seu poder econômico e o dinamismo de sua cultura atraem a atenção do governo do Quebec”, afirma, destacando a evolução bastante positiva dos números que expressam essa relação. “Ao se avaliar os dados do comércio bilateral na última década, verifica-se crescimento anual da ordem de 2,3% nas importações do Quebec provenientes do Brasil, taxa que supera a alta de 0,29% ao ano das importações totais da província”, completa o embaixador.
Em 2020, apesar da pandemia, as vendas brasileiras aos canadenses registraram expansão de 12% em relação ao ano anterior. A corrente comercial fechou o período com saldo positivo de CAD$ 2,1 bilhões para o Brasil. Do total de CAD$ 6,5 bilhões embarcados para o Canadá, CAD$ 2,6 bilhões foram destinados ao Quebec.
No campo comercial, destaca, entre as muitas parcerias bilaterais de êxito, os setores de mineração, aeroespacial, agronegócio, ciências da vida, transporte terrestre e os ligados à tecnologia e inovação.
Cooperação
Para além do trade, outras áreas de integração promissoras devem concentrar as atenções do diplomata. “O Quebec e o Brasil compartilham diversas prioridades e podem ser considerados parceiros complementares tanto institucionalmente quanto comercialmente. Parceiros que se beneficiam de um intercâmbio mais intenso de ideias e soluções em diversos temas, de políticas de preservação ambiental ao desenvolvimento de tecnologias inovadoras”, afirma. “Estamos trabalhando para identificar e aproveitar as oportunidades setoriais e para promover também as prioridades brasileiras.”
Entre os exemplos está o Programa de Apoio à Pesquisa – Apoio a Iniciativas Internacionais de Pesquisa e Inovação, do Ministério da Economia, Ciência e Inovação (MESI) que, desde 2007, concede bolsas para financiar cerca de 20 iniciativas de networking e startup de projetos, além de colaboração em pesquisa e inovação entre Quebec e Brasil. “Queremos ampliar cada vez mais a quantidade de projetos conjuntos”, diz.
Outro ponto importante é o apoio à difusão do idioma francês. Segundo dados do Observatório Demográfico e Estatístico do Espaço Francês (ODSEF), o Brasil tinha, em 2016, cerca de 765 mil palestrantes e alunos que se comunicam, vivem e criam em francês. “Embora não seja membro oficial da Organização Internacional da Francofonia, o Brasil compartilha, à sua maneira, uma série de valores similares, o que resultou em diversas colaborações com instituições quebequenses, incluindo a promoção dos direitos humanos e da igualdade de gênero.”
O embaixador ainda lembra que o País é um dos 143 Estados que ratificaram a Convenção da UNESCO sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais. “Espero que pouco a pouco o idioma, em vez de ser visto como um obstáculo nas relações comerciais, passe a ser visto como um diferencial em favor do Brasil.”
Nos planos do novo cônsul em Montreal está ainda o campo educacional. “O Canadá é o destino internacional número um para estudantes brasileiros e o Quebec conta com universidades de altíssima qualidade e prestígio. Além disso, o Brasil é o maior beneficiário do Programa de Líderes Emergentes do Canadá na América Latina e as associações de educação canadenses são muito ativas no Brasil, muitas assinaram acordos com entidades governamentais brasileiras e com universidades brasileiras”, ressalta.
Trabalho conjunto
A abertura de novas oportunidades nessas e em diversas outras áreas deve ser fruto de iniciativas próprias do Consulado e de ações conjuntas com organizações parceiras, como a CCBC, seja em missões, eventos ou feiras de negócios. “Essas parcerias nos ajudam sobremaneira a identificar e aproveitar as oportunidades bilaterais e a aumentar ainda mais a visibilidade do Brasil para o Québec e províncias atlânticas”, diz Jorge.
O contato próximo com a comunidade empresarial completa o trabalho de suporte à intensificação das relações bilaterais. “Espero manter os encontros com empresários brasileiros estabelecidos na cidade por meio das reuniões matinais, dando continuidade ao programa Café com Empreendedores. Tenciono ainda manter o apoio a projetos como missões comerciais em setores como agroalimentar, aeroespacial, infraestrutura, tecnologia, turismo e design”, explica.
Várias iniciativas já estão em andamento e trazendo frutos. Recentemente foi aberto o Setor de Ciência, Tecnologia e Inovação (SECTEC) do Consulado-Geral em Montreal, como parte do Programa Diplomacia da Inovação do Ministério das Relações Exteriores. Com o apoio do programa foi possível organizar uma missão virtual de startups brasileiras de inteligência artificial ao World Summit AI Américas neste ano, e que contou também com o apoio da CCBC e de parceiros como Anprotec, Montreal International e Sebrae.
Trajetória
Bacharel em Direito, o embaixador Nedilson Jorge é diplomata de carreira e, antes de assumir o Consulado Geral do Brasil em Montreal, ocupava o cargo de embaixador do Brasil na África do Sul (2016 a 2020). Ao longo de sua trajetória na diplomacia, desempenhou funções em diferentes áreas e missões diplomáticas, incluindo o Gabinete do Ministro das Relações Exteriores (MRE), em Brasília, as Embaixadas do Brasil na Argentina e no Chile e a Representação do Brasil junto à FAO, em Roma. Entre 2010 e 2016, foi diretor do Departamento da África no MRE em Brasília e, entre os anos de 2012 e 2016, ainda foi professor de alunos brasileiros e africanos do Instituto Rio Branco, a academia da diplomacia brasileira.