Cenário pós-pandemia é promissor para projetos de infraestrutura

CCBC discute possíveis oportunidades para investimentos no país

Por Sérgio Siscaro

As possibilidades de retomada da economia brasileira quando passar a crise trazida pelo novo coronavírus ainda geram dúvidas entre especialistas. Ainda que essa recuperação seja vista como gradual, só ganhando ímpeto maior em 2021, há a perspectiva de que investidores aproveitem esse momento para buscar oportunidades no Brasil, o que poderá contribuir para atrair o capital necessário para a recuperação econômica.

Com a finalidade de discutir o assunto e examinar as possibilidades de investimentos em infraestrutura no Brasil, a Comissão de Investimentos e Infraestrutura (CII) da Câmara de Comércio Brasil-Canadá (CCBC) promoveu em 9 de junho o webinar A conjuntura da economia e o cenário para os investimentos. Na ocasião, os participantes tiveram acesso às projeções feitas por dois sócios da LCA Consultores – Fernando Sampaio e Fernando Camargo. Também participaram o sócio-diretor da Teckma, Fábio Barione, que abordou as possibilidades no setor de energia elétrica; e o CEO da Allonda Ambiental, Leo Melo, que tratou do cenário para os investimentos em saneamento básico no país. A mediação foi feita pelo presidente da CII, Bayard Lucas de Lima.

O webinar pode ser acessado aqui.

 

Áreas promissoras

Uma das áreas da infraestrutura brasileira que aparece como promissora em termos de captação de investimentos externos no cenário pós-pandemia é a de energia elétrica. De acordo com Barione, da Teckma, um indicador disso seria o sucesso dos leilões realizados pelo governo federal antes da pandemia, que atraíram R$ 23 bilhões, envolvendo 48 lotes abrangendo 12.180 km de linhas de transmissão. “Temos o desafio de garantir o futuro da área de energia”, afirmou.

Outro possível foco de investimentos é a área de telefonia. “Temos a necessidade de acompanhar outros países, que investem na internet 5G. Enquanto ainda discutimos que tecnologia empregar, a China já dispõe de 50 milhões de aparelhos de telefonia celular com 5G – que é uma tecnologia que irá revolucionar o modo como vivemos”, avaliou.

A grande defasagem do Brasil em termos de acesso a serviços de abastecimento de água e esgotos ressalta a necessidade de grandes investimentos na área de saneamento básico. Melo, da Allonda, lembrou que são necessários R$ 700 bilhões de investimentos para que haja o acesso universal a água e esgoto no país. “Hoje o saneamento representa o maior potencial de investimentos e oportunidades em infraestrutura no Brasil”, afirmou, acrescentando existirem 343 projetos do setor prestes a serem iniciados. Além disso, dois processos de concessão – da Companhia de Saneamento de Alagoas (Casal) e da Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae) do Rio de Janeiro – deverão atrair investidores.

Para ele, a atual discussão no Senado sobre o marco regulatório do setor pode contribuir para destravar esses investimentos. “Com o novo marco regulatório, teremos um ambiente de maior segurança jurídica.”

 

Cenários possíveis

É verdade que, no momento, ainda há considerável grau de incerteza sobre os rumos da economia brasileira. Em meados de junho, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) considerou que o Produto Interno Bruto (PIB) global poderá encolher de 6% a 7,6% neste ano por conta da pandemia. No caso do Brasil, o relatório preliminar da organização projeta uma queda de 7,4% a 9,1% em 2020, com a atividade econômica se recuperando lentamente no próximo ano.

Utilizando três cenários distintos, a LCA projeta para este ano uma retração do PIB entre 3,3% e 9,7% – com maior possibilidade de um encolhimento de 5,6%. Todos os modelos preveem uma cotação do dólar abaixo de R$ 5,60, e a manutenção da taxa básica de juros, a Selic, em 1,5% a.a.

Na avaliação de Sampaio, da LCA, o Brasil tem como desafios a forte queda da massa salarial, que deverá refrear o consumo, e os altos níveis de desemprego. Contudo, a Selic está atualmente em seu patamar mais baixo desde 1999 – e deverá continuar dessa forma. “Isso é muito importante. Também não há muito espaço para uma inflação elevada. Com Selic e inflação baixas nos próximos anos, temos uma situação muito positiva para os investimentos no Brasil. A confusão atual vai passar, e teremos muitas oportunidades de negócios”, afirmou.

Ele salientou ainda que o Brasil já vinha enfrentando cenários de queda de investimentos públicos desde 2014, e que a discussão agora deve ser sobre a necessidade de relaxar restrições ao investimento público em infraestrutura.

Seu sócio Camargo apresentou uma análise específica sobre os setores da infraestrutura mais afetados pela crise do novo coronavírus. Aqueles relacionados com a movimentação de pessoas, como aeroportos, rodovias e mobilidade urbana, sofreram impactos mais negativos, ao ponto que portos, telecomunicações e iluminação pública se beneficiaram do cenário de quarentena. Outros setores, como logística, energia, saneamento, óleo e gás e ferrovias, ficaram em uma posição intermediária.

Ele ponderou que, diante do cenário atual, os principais entraves que se apresentam aos investidores de projetos de infraestrutura no Brasil sejam os riscos regulatório e cambial. “É necessário que as responsabilidades não sejam concentradas apenas na iniciativa privada, mas compartilhadas com o poder público e com os consumidores”, disse.

Camargo citou o papel dos bancos de fomento, que devem permitir a entrada segura da iniciativa privada nos projetos – como é o caso do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). E pontuou a atratividade que alguns segmentos de logística podem oferecer a investidores externos. “Na área de transportes, a gestão privada é especialmente interessante em projetos próximos aos portos – o que é atraente para investidores externos.”