Rodada virtual de negócios traz grupo de 22 companhias para compartilhar tecnologias e soluções de ponta com empresas brasileiras
Por Sérgio Siscaro
Um dos principais desafios do Brasil é o saneamento básico. De acordo com dados de 2018, reunidos pelo governo federal no Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), 16,4% da população não dispõe de acesso à água tratada, e 46,8% não tem cobertura de rede de esgotos. Para mudar esse quadro, as empresas do setor, controladas por governos municipais ou estaduais, necessitam incorporar soluções que aumentem a eficiência de suas operações, elevando o grau de acesso da sociedade a esses serviços.
Essa situação também constitui uma excelente oportunidade de negócios para empresas do exterior interessadas em investir em projetos dessa área no Brasil; e para companhias brasileiras que busquem acesso a tecnologias de ponta. A fim de potencializar essas oportunidades, o Consulado Geral do Canadá em São Paulo promoveu em novembro a Virtual Water/Watewater Trade Mission to Brazil, que aproximou as empresas canadenses do mercado brasileiro.
Com a participação de 22 companhias que atuam no segmento, a iniciativa foi desenvolvida pelo Trade Commissioner Service no Brasil, em conjunto com o Ministério de Desenvolvimento Econômico, Criação de Empregos e Comércio da província de Ontário; com o escritório da província de Quebec em São Paulo; e com a Investissement Québec Internacional.
Acesso a tecnologias de ponta
De acordo com a gerente comercial de Tecnologias Limpas do Consulado Geral do Canadá em São Paulo, Monica McDonough, a missão – realizada de forma virtual – possibilitou a conexão entre empresas canadenses e brasileiras. “Este setor oferece fortes sinergias entre os dois países. O Canadá é um líder global no desenvolvimento de avançadas tecnologias no segmento de águas e esgotos. O país tem mais do que 900 companhias nesse setor, além de centros de pesquisa, incubadoras e programas específicos concentrados em Ontário e Quebec”, afirma.
Ela salienta que, com a entrada em vigor do Marco Legal do Saneamento Básico (lei 14.026/2020), o interesse em trazer ao país tecnologias de ponta, com vistas à universalização dos serviços de saneamento no Brasil até 2033, só aumenta. “O impacto da Covid-19 também elevou a demanda por soluções automatizadas que não requeiram interação presencial, e acelerou a necessidade de implementação de tecnologias de inteligência artificial e de internet das coisas – áreas nas quais o Canadá se destaca.”
Apesar do apoio de órgãos de Ontário e Quebec, a missão também inclui empresas das províncias de Alberta, Colúmbia Britânica, Terra Nova e Labrador, e Ilha do Príncipe Eduardo. “A CCBC teve um papel-chave ao selecionar mais de 40 empresas e órgãos governamentais do Brasil que apresentassem pontos de convergência com as participantes da missão”, complementa McDonough.
Soluções diversificadas
As 22 empresas canadenses que compõem a missão virtual atuam principalmente em seis áreas: instalações de tratamento de águas e esgotos; tecnologias que são utilizadas nesse processo; soluções robóticas para inspeções de segurança; serviços especializados no gerenciamento hídrico; geração de energia; e equipamentos para a infraestrutura de barragens e comportas. “Muitas destas soluções também têm aplicações em outras áreas, como mineração, óleo e gás, papel e celulose, e alimentos e bebidas”, explica McDonough.
Ela ressalta a similaridade de problemas enfrentados pelos dois países como um argumento adicional para a complementaridade da atuação de suas empresas. “O Canadá tem os mesmos desafios que o Brasil em garantir o acesso de água e esgoto a comunidades remotas, e também experimenta a crescente demanda por água de reuso. A missão permite que possa compartilhar algumas dessas soluções de ponta para o setor com o Brasil por meio de parcerias com empresas locais.”
Exemplos positivos
Uma das empresas canadenses que já atua no Brasil é a BRK Ambiental, do grupo Brookfield – hoje a maior empresa privada do setor de saneamento básico no Brasil. Por meio de uma parceria público-privada com a Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa), ela tem sido responsável por melhorar os níveis de acesso da população de Recife a serviços de água tratada e esgotos. Recentemente, a companhia foi selecionada pelo governo de Alagoas para atuar também naquele estado brasileiro.
Outra companhia presente é a Alberta Investment Management Corporation (AIMCo), que se tornou em 2018 acionista minoritária da Iguá Saneamento. Essa empresa brasileira, que atua nos estados de Alagoas, Mato Grosso, Paraná, Santa Catarina e São Paulo, foi a primeira do setor a fazer uma oferta de debêntures sustentáveis (com benefícios verdes e sociais), garantindo os investimentos para expandir seus serviços de infraestrutura de água e esgotos.