Soluções tecnológicas se voltam ao aumento da produtividade do agronegócio
Por Sérgio Siscaro
A produção de alimentos é um dos setores mais importantes da economia global. O setor agropecuário enfrenta o desafio de produzir volumes maiores, com mais qualidade – e isso é especialmente verdadeiro para o Brasil, país que já é o quarto maior exportador mundial do setor (atrás da União Europeia, Estados Unidos e China). Nesse contexto, a introdução de modernas tecnologias no campo é um fator-chave para elevar a produtividade do agronegócio; e as startups dedicadas ao desenvolvimento de soluções inovadoras para a atividade agropecuária, as chamadas agtechs, têm ocupado um importante papel nesse sentido.
De acordo com a pesquisa Mapeamento Agtech 2021, realizada pela Associação Brasileira de Startups (Abstartups), os investimentos em agtechs atingiram US$ 26,1 bilhões em todo o mundo em 2020 – um aumento de 15,5% na comparação com o ano anterior. No ranking global, o Brasil ficou em 12º lugar, com US$ 20 milhões. O levantamento identificou 299 agtechs ativas no país, a maioria (72,6%) desenvolvendo tecnologias voltadas a auxiliar a produção e a gestão agrícola.
O grande obstáculo para a proliferação das agtechs no Brasil é o fato de que apenas um terço dos produtores rurais do país se beneficiariam atualmente de tecnologias como big data, internet das coisas e computação em nuvem – conforme constatado por um estudo da Associação de Engenheiros Brasil-Alemanha, citada no estudo da Abstartups. Mas as oportunidades são promissoras, dado o peso do agronegócio na economia brasileira.
Inovação no agronegócio
Para tratar desses desafios e oportunidades, a Câmara de Comércio Brasil-Canadá promoveu a discussão do tema em duas oportunidades recentes – afinal, da mesma forma que o Brasil, o Canadá também dispõe de vastos territórios dedicados à produção agrícola. E o setor tem se beneficiado da vocação do país para a pesquisa e desenvolvimento de soluções que contribuem para elevar a produtividade do agronegócio canadense, aumentando sua lucratividade.
No final de maio foi realizada a primeira edição do Fórum Brasil-Canadá de Agricultura – uma iniciativa conjunta da CCBC com a Brazil-Canada Chamber of Commerce (BCCC), e apoio do Global Affairs Canada através da Embaixada do Canadá no Brasil e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Um dos dias do evento foi dedicado à aplicação de soluções tecnológicas no campo. Na ocasião, a sócia para o mercado de agronegócio da consultoria KPMG Brasil, Giovana Araújo, mostrou como as novas tecnologias estão reconfigurando todos os aspectos da cadeia de valor do setor. Fatores como a conectividade do campo com redes de internet 5G, implementação de soluções de internet das coisas em equipamentos agrícolas, a construção de ecossistemas de inovação e o uso intenso de processos de automação na administração das fazendas são alguns dos aspectos da transformação digital no agronegócio.
O coordenador do Laboratório Virtual no Exterior (Labex USA-Canada) da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Dr. Alexandre Varella, apresentou sobre a cooperação tecnológica desenvolvida com a Agriculture Agri-Food Canada (AAFC). Essas atividades são voltadas às áreas de automação, biotecnologia, grãos, mudanças climáticas e recursos genéticos. Já a vice-cônsul e comissária de comércio IST no Consulado Geral do Canadá em São Paulo, Marie-Hélène Belánd, e a conselheira de tecnologia industrial do National Research Council of Canada Industrial Research Assistance Program (NRC IRAP), Ronda Gosselin, apresentaram as oportunidades de cooperação entre Brasil e Canadá na área de inovação.
Polo de agtechs
Algumas semanas depois, no final de junho, a CCBC promoveu um ciclo de debates dedicados ao tema na segunda edição do Canada Day CCBC Online Festival. Durante o evento, foram apresentadas as oportunidades de negócios envolvendo a aplicação da tecnologia ao agronegócio em duas regiões canadenses.
Uma delas é a Fraser Valley, localizado na província da Colúmbia Britânica. Trata-se da área cultivada de forma mais intensa na América do Norte, com 66.780 hectares de terras de alta qualidade. A receita agrícola da região ultrapassa CAN$ 990 milhões, e sustenta mais de 16,6 mil postos de trabalho – o que tornou o Fraser Valley um polo de concentração para empresas que atuam no segmento de agtechs.
O gerente de desenvolvimento econômico de Abbotsford, Vern May, abordou como a introdução de soluções tecnológicas tem contribuído para tornar a região um exemplo de incorporação da inovação ao agronegócio. Segundo ele, a região dispõe de um considerável ecossistema de formação universitária, com instituições que desenvolvem currículos de acordo com as necessidades locais.
Como resultado, diversas empresas estão instaladas na região, desenvolvendo soluções tecnológicas para diversos aspectos do agronegócio – tais como controles ambientais, bem-estar animal, produção de alimentos e técnicas inovadoras de cultivo, entre outros. “A agricultura feita há uma geração mudou significativamente. Há muita coisa interessante acontecendo na região”, disse. “Além disso, a terra é de muito boa qualidade, e 75% a área do Fraser Valley é dedicada à agricultura. Isso se deve ao clima, que não atinge as baixas temperaturas de outras partes do país”, acrescentou.
Ecossistema nas pradarias
Outra região bastante voltada ao agronegócio é a província de Manitoba, localizada na porção central do país – em meio à área das pradarias canadenses. Sua capital, Winnipeg, se destaca como um polo de inovação, que tem como principais setores econômicos o agronegócio, a manufatura avançada, a indústria aeroespacial, a tecnologia da informação e comunicação, e as indústrias criativas.
As oportunidades para soluções de agtech foram abordadas pelo diretor de investimentos estrangeiros diretos no Economic Development Winnipeg, Alberto Velasco-Acosta; pelo presidente do International Point of Commerce (InterPOC) e cônsul honorário do Brasil naquela província, Gustavo Zentner; e pela gerente de desenvolvimento de ecossistemas da Protein Industries Canada, Camila Jerger.
“Winnipeg é um dos melhores locais para desenvolver um negócio de agtech devido a um conjunto de fatores: dispõe de um ecossistema favorável para agtechs, que trabalha em proximidade com a academia; proximidade de grandes unidades agrícolas, muitas delas operadas por jovens fazendeiros; acesso a talentos, formados em importantes instituições de ensino; e programas voltados a atrair mão de obra imigrante habilitada para a região”, afirmou Velasco-Acosta.