Educação Sustentável
Escolas desenvolvem iniciativas para formar uma geração de cidadãos focados em reduzir o impacto ambiental das ações humanas
Por Nathalia Molina
As crianças são o futuro. Mais do que nunca, essa máxima popular faz hoje todo o sentido. O momento é de urgência climática e crise energética. Agora estas questões exigem um esforço mundial para rever políticas ambientais e de uso dos recursos naturais e, também, para encontrar soluções. No estabelecimento dessas conexões, a educação desempenha um papel preponderante, como mostram trabalhos desenvolvidos por escolas em São Paulo.
Criado pela Maple Bear, rede de escolas bilíngues com metodologia canadense e presente em 30 países, o programa Global Connections for Sustainability propõe um debate sobre o tema, com a participação das unidades espalhadas pelo mundo. Os alunos trocam experiências com o intuito de encontrar saídas para os problemas relacionados aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU). Dessa forma, os projetos promovem um intercâmbio cultural que mantém o estudante no centro de seu processo de aprendizagem, como prevê a essência da educação canadense.
“As crianças brasileiras estão desenvolvendo um trabalho sobre a água em parceria com alunos da Índia. Essa é a grande sacada do programa: falar de temas superatuais, presentes na TV e na internet, e proporcionar o relacionamento com crianças de outras realidades”, afirma Natália Fontana Fernandes, gestora da Maple Bear Mooca. “Antes de entrar no assunto da água, as crianças fizeram um encontro ao vivo só para conversar entre elas. Tanto os indianos quanto os nossos alunos já tinham uma lista de perguntas que queriam fazer uns aos outros, sobre gostos, hábitos e curiosidades.”
Brasil, México, Vietnã e Índia já realizam atividades do programa. Até o início de 2022, outros países também devem passar a desenvolver projetos. Divididos por faixa etária, estudantes dos ensinos fundamental e médio, com idades entre seis e 14 anos, podem participar do Global Connections for Sustainability.
Um tema em comum é escolhido, e a turma de um país trabalha com a turma de outro, visando aprofundar-se na questão proposta e responder às dificuldades encontradas. “No mercado de trabalho, quando tiverem que discutir saídas para problemas mundiais, estarão mais preparados, porque já fazem isso aos 8 anos, procurando uma solução que atenda à realidade do Brasil e da Índia”, acredita a gestora da unidade.
Ela conta que a experiência tem sido rica em todos os sentidos e que planos de aula e orientações vêm sendo adaptados conforme a prática com os alunos. “Essa turma está sendo considerada piloto, dando-nos ideias do que a gente vai fazer com as outras, não só no Brasil. Tudo está sendo reportado para a Maple Bear global para que a gente consiga fazer ajustes”, explica Natália. Uma plataforma mundial receberá os projetos concluídos e poderá ser consultada por todas as unidades.
A experiência na Mooca teve início em junho e foi concluída em meados de novembro de 2021. “A gente começou com a turma do 4º ano. As crianças mais novas, depois de verem o que a gente está fazendo, já querem saber quando chegará a vez delas. A parede da sala de aula é de vidro, e quando elas passam já podem ver os alunos conversando com os indianos”, conta a gestora da escola.
Usando o lado lúdico e a curiosidade inerente aos pequenos, é possível abordar, de modo natural, temas mais complexos. Na Escola Tarsila do Amaral, as crianças mantêm na rotina a alimentação do minhocário, a produção de chorume e o cuidado com hortaliças e árvores frutíferas. “Cuidar do clima não é uma escolha pedagógica, mas algo necessário para que as gerações futuras possam viver cada vez mais em harmonia com o meio ambiente. A consciência sustentável nasce do convívio entre as crianças, e a proximidade com a vida proporciona cuidado, proteção e preservação”, afirma a coordenadora pedagógica do colégio, Patrícia Bignardi. Dessa forma, as crianças já crescem com a ideia de que esses são temas aos quais se deve dar atenção constante.
Os projetos em andamento no Centro Educacional Pioneiro acompanham os alunos do 6º ano desde que eles cursavam o 4º. Marcia Sakay, professora de Ciências, relata que as crianças vêm reduzindo os resíduos que seriam descartados — por exemplo, “do óleo de fritura estão fazendo sabão, e retalhos de pano viram suportes de carregadores de celular”.
” Os jovens de hoje não podem ser
responsabilizados pela situação em que se
encontra a Terra , que já sofreu mudanças milhões de vezes . Temos de ensinar os nossos alunos a conviver bem neste planeta e , para isso , eles precisam conhecê – lo melhor “
A tecnologia serve de meio para a mobilização dos estudantes da Carandá Educação. Os alunos do ensino fundamental 2 e do ensino médio criaram o Coletivo de Sustentabilidade, com o perfil <@cvvsustentavel> no Instagram, para abordar questões ligadas ao clima e à necessidade de mudança de hábitos. “Está no DNA da escola trabalhar para a saudável relação do homem com o planeta. A Carandá acabou de se mudar para um endereço novo, todo projetado para o bom aproveitamento dos recursos naturais”, conta a diretora administrativa, Milena Palma.
Ao longo de 2021, a crise climática e energética foi o tema proposto por Pedro Ferreira, professor de Geografia do 8º ano na Escola Nossa Senhora das Graças (Gracinha). “Os alunos analisam o impacto do ser humano na Terra e desenvolvem um projeto de jornal do futuro, que antecipa o possível cenário daqui a 50 anos”, diz ele, que parte das perguntas “Preservar para quê?” e “Preservar para quem?” como premissa.
Com o ensino médio, o professor de Ciências da Natureza Renan Milnitsky aposta numa abordagem bem prática. “No último ano, os alunos já estão analisando as contas de energia em casa e classificando os aparelhos que mais gastam, no intuito de levantar um diagnóstico e criar ações que promovam a redução do consumo energético em pelo menos 20%”, explica.
Na Jornada Amazônica, ocorrida de 13 a 16 de outubro de 2021, a escola reuniu especialistas do universo acadêmico e representantes de povos indígenas para discutir o impacto da crise climática na maior floresta do planeta e em seus habitantes, além de possíveis soluções e tecnologias para sanar os problemas atuais.
“Os jovens de hoje não podem ser responsabilizados pela situação em que se encontra a Terra, que já sofreu mudanças milhões de vezes. Temos de ensinar os nossos alunos a conviver bem neste planeta e, para isso, eles precisam conhecê-lo melhor”, afirma Antônio Carlos Carvalho, professor de Geografia do Colégio Equipe.
Ele lembra que há mais de trinta anos o Equipe trabalha a temática ambiental em sala de aula e que muitos ex-alunos são engajados em movimentos ambientais, como João Gabriel Prioli, atualmente professor de História no colégio. “Discutimos a poluição. Por que ela existe? Nós gostamos dela? Se não gostamos, por que a produzimos? Pelo modo de vida, pela comodidade, pelo hábito de consumo. Nossos alunos têm consciência de que o menos é mais, que o carro é um problema sério, que devem consumir de forma diferente e conviver bem com outras espécies. Não adianta reciclar lixo se não ocorrerem mudanças de hábitos”, arremata Carvalho.