Uma nova vida no Canadá

Brasileiros que buscavam oportunidades encontraram em Québec um terreno fértil para transformar seus sonhos em realidade

 

Por Andréa Ciaffone

Um engenheiro desenvolvedor de sistemas que desejava estar onde tudo de mais avançado acontecia em seu segmento e uma pesquisadora na área de farmacologia que quase desistiu de continuar seus projetos por falta de financiamento oficial — esses são exemplos de brasileiros que viram na emigração para o Canadá a alternativa perfeita para prosseguir na busca da realização dos seus objetivos profissionais e sonhos pessoais.

“Geografia é crucial no setor de tecnologia”, afirma o brasileiro Bruno Kinder, que construiu a carreira como arquiteto desenvolvedor de sistemas. “Em um mundo de trabalho remoto, pode parecer quase antiquado dizer isso, mas o fato é que estar fisicamente próximo das grandes empresas do setor faz muita diferença, porque são ambientes que inspiram a criatividade e apoiam a evolução de cada profissional “, completa. Formado em ciência da computação no Brasil, fez mestrado em inteligência artificial na Universidade Laval, em Québec, onde mora desde 2015.

Para Kinder, o sucesso da imigração tem vários fatores, mas ele destaca como decisivos o apoio institucional oferecido pelo Québec International nos primeiros tempos, a estrutura de apoio acadêmico, a química pessoal e o networking. “Para se integrar é fundamental participar de atividades que ajudem a criar um denominador comum entre as pessoas”, aconselha o brasileiro.

Kinder decidiu ir para o Canadá aos 36 anos, com um currículo de 14 anos de atuação em empresas brasileiras. “Eu senti que precisava dar um salto de qualidade na minha carreira, um salto que só uma especialização acadêmica poderia me dar, e a melhor oportunidade para isso estava em Québec”, explica o imigrante, que participou de uma ação de recrutamento promovida pelo Québec International. “Eu tive que enfrentar a realidade de dar “um passo para trás”, voltar a ser estudante, a fazer estágio (sendo que no Brasil eu já era sênior). Mas tudo isso compensou, e hoje vejo que aquele salto aconteceu e percebo até uma aceleração contínua na minha evolução profissional”, avalia.

O cientista de computação explica que, no seu mercado, as dinâmicas são muito diferentes nos dois países. “No Brasil, conforme você fica sênior, passa a ganhar 15 ou 20 vezes o salário pago a um estagiário. Isso fragiliza a continuidade no emprego de quem é sênior, porque ele passa a ser visto como um custo muito alto para a empresa. No Canadá, a diferença de salário entre um estagiário e um sênior é de até 500%, só que, para as empresas canadenses, a experiência é o que mais pesa, por isso sua evolução salarial não representa uma ameaça”, compara Kinder, que chama a atenção para mais um ponto: no Canadá o preconceito em relação à idade do profissional é bem menor. “No Brasil existe um etarismo estrutural. Eu ficava preocupado com cada fio branco na minha barba”, conta Kinder, hoje com 43 anos. Ele e a esposa, Daniela, emigraram juntos e só depois de se firmarem no novo país seguiram com o plano de formar uma família; hoje eles têm um filho nascido no Canadá há três anos. Aqui o governo apoia muito a chegada de crianças, além disso, é enorme a confiança que a gente tem nos sistemas públicos de saúde, educação e segurança. “Aqui o auge da criminalidade é um furto de bicicleta”, comenta o carioca.

A busca pela continuidade da carreira acadêmica também foi o catalisador para que a paulista Diana Majoli se inscrevesse na ação de recrutamento promovida pelo Québec Internacional. “Com os cortes no financiamento das pesquisas acadêmicas no Brasil, eu percebi que era cada vez menos viável dar sequência ao meu trabalho “, explica a pesquisadora, que fez no Brasil mestrado e doutorado em farmacologia com foco em síndrome metabólica ligada a obesidade, diabetes e asma. Apesar do interesse social da sua pesquisa, sua possibilidade de seguir com o pós-doutorado era pequena.

No Canadá, o governo patrocina as pesquisas.
Por isso, o país atrai os melhores cérebros
e avança rapidamente na ciência. Para completar, há muitas oportunidades de emprego compatíveis com as diversas especializações

“Aqui no Canadá, o governo patrocina as pesquisas, por isso atrai os melhores cérebros e avança rapidamente na ciência”, conta a doutora, que se mudou para Québec em 2018 com o marido, também brasileiro. Ao terminar seu ciclo de dois anos como pesquisadora na Universidade Laval, e percebendo que havia muitas oportunidades de emprego compatíveis com sua especialização, Diana começou a enviar currículos e assim foi contratada. Hoje ela trabalha no departamento de imunologia analítica da companhia biofarmacêutica Medicago, que desenvolve vacinas contra a covid-19 e a influenza. “É interessante ver como o Canadá é avançado em termos de direitos dos colaboradores. Nas entrevistas, o foco é sempre a sua experiência profissional, sem perguntas pessoais ou discriminatórias”, conta.

“Além disso, a qualidade de vida que eu consegui aqui em três anos eu não teria em 30 anos no Brasil, especialmente por causa da questão da segurança. Aqui a gente tem liberdade para andar na rua, para ir e vir, para carregar coisas de valor sem medo de assalto”, comenta.

Outro aspecto que Diana destaca é a formação de uma rede de apoio constituída por outros imigrantes. “O Québec Internacional promove eventos de francisação para cuidar da aclimatação dos recém-chegados, e assim a gente faz amizade com pessoas que também estão começando uma vida nova. Tudo isso gera laços e uma convivência bem-divertida com gente do mundo todo”, completa a PhD.

Veterano na integração de brasileiros e canadenses, o quebequense François Godbout é consultor sênior de assuntos internacionais e mentor de negócios graças a sua vasta experiência nas relações entre Canadá e Brasil. “Desenvolvo negócios com o Brasil desde 1989”, conta o empresário que, por mais de 30 anos, fez a ponte ente os dois países. Entre 2012 e 2014, atuou como consultor governamental no escritório de Québec em São Paulo; atualmente, por meio da empresa Viabilis do Brasil, da qual é um dos sócios, atua na consultoria a empresas canadenses que pretendem desenvolver negócios no Brasil.

“A atratividade entre os dois países em termos de negócios é inegável. Entretanto, a boa adaptação dos brasileiros em Québec é que explica tantas histórias de sucesso quando se trata de emigração para o Canadá”, explica Godbout, em bom português.

Segundo o consultor, existe uma combinação bastante positiva entre o Canadá francófono e os brasileiros em vários aspectos, especialmente o cultural. Certamente a matriz latina em comum tem seu peso nessa afinidade, mas há algo maior do que isso: uma vontade consciente e consistente de tornar bem-sucedidas as relações e especialmente a imigração para o Canadá.

“Os canadenses reconhecem o Brasil como um excelente mercado, e os brasileiros percebem no Canadá um excelente ambiente para se desenvolver. A soma dessas duas coisas torna ideal a parceria entre os dois países”, avalia Godbout.

Apoio:

Cadastre-se e baixe a nova edição da revista Explore!

Compartilhe: