País está na mira da Abrafrutas e ApexBrasil para alavancar as exportações nos próximos dois anos
Por Sérgio Siscaro
Se a complexidade do comércio exterior ainda assusta muitas empresas brasileiras com potencial exportador, a situação é ainda mais delicada quando se trata de produtos perecíveis. O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de frutas, mas apenas o 23º fornecedor internacional. Equívocos no processo burocrático e logístico, falta de informação e de planejamento impedem o avanço das vendas externas. Mas a boa notícia, segundo os especialistas, é que dá sim para reverter esse quadro e o Canadá pode ser uma aposta certeira.
As perspectivas são bastante animadoras. Tanto que a Associação Brasileira de Produtores, Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas) estabeleceu o mercado canadense como sua meta no biênio 2020-2021, dentro de uma parceria de promoção comercial estabelecida com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil). “Há um grande potencial para frutas premium no Canadá. Por isso, pretendemos direcionar ações de promoção para lá, participando de feiras, trazendo potenciais compradores para cá ou levando produtores àquele país”, afirmou o diretor-executivo da associação, José Eduardo Brandão Costa.
No ano passado, o Brasil exportou US$ 785,66 milhões em frutas. A maior parte delas para a União Europeia (58%), utilizando principalmente o transporte marítimo. De acordo com dados da Abrafrutas, 93% dos embarques é feito por navio, e apenas 7% por via aérea – utilizada principalmente nas exportações de mamão papaia, manga e figo. “O mercado interno é forte, e os produtores ainda acham que é muito complicado vender para o exterior. Precisamos criar uma cultura exportadora”, disse.
Costa participou do último Bate-Papo de Comércio Exterior da CCBC, em 29 de agosto, ao lado do gerente de operações da Air Canada, Marcelo Lima, e do gerente de exportação do Grupo V. Santos, Osvaldo Pinto. Na ocasião, eles mostraram as oportunidades e discutiram os caminhos para facilitar e aumentar a exportação de frutas para o mercado canadense.
Transporte rápido por via aérea
O desafio dos produtos perecíveis pode ser vencido com alternativas mais rápidas de transporte, como o modal aéreo. A Air Canada oferece opções com frequência diária para transporte de carga, feito nos voos de passageiros, na rota entre os aeroportos de Guarulhos (São Paulo) e de Toronto (Ontário). De lá é feita a distribuição para outras cidades canadenses.
Segundo o gerente de operações da companhia aérea, a capacidade de carga de cada voo é de 15 toneladas. “A grande vantagem do modal aéreo é a velocidade. E, no caso do Canadá, a liberação da carga é feita de forma quase automática”, afirmou Lima, acrescentando que um voo adicional será introduzido entre dezembro de 2019 e março de 2020, com saídas três vezes por semana, entre Guarulhos e Montreal (Quebec).
Atenção à documentação
Mas, para não perder a grande vantagem da agilidade desse meio de transporte, ele alerta que é preciso tomar cuidado com possíveis problemas no embarque de cargas perecíveis, como é o caso de frutas frescas. “O sistema de Guarulhos demora para liberar as cargas após o pagamento. O aeroporto não é preparado para cargas perecíveis. Quaisquer discrepâncias nas informações prestadas pelo produtor, como o volume da carga, podem travar o processo. Nesses casos, o excedente não é embarcado – e, se for apenas parte da carga, não pode ser encaminhado à câmara refrigerada do aeroporto”, esclareceu. Por isso, é fundamental que as informações dadas sejam o mais precisas possível.
A necessidade de os produtores apresentarem a documentação completa exigida pelas autoridades brasileiras, para evitar possíveis transtornos, ou mesmo retenção de cargas, também é destacada pelo gerente de exportação do Grupo V. Santos. “No caso do modal aéreo, a apresentação da documentação completa é fundamental para que nada dê errado! No caso do aeroporto de Guarulhos, algumas medidas têm facilitado a movimentação das cargas – como a possibilidade de agendamento. Já no transporte marítimo, a burocracia do porto torna a operação mais complicada – especialmente para os exportadores que estão começando”, afirmou.
Osvaldo Pinto também lembrou que, entre os diversos deslizes que podem prejudicar o embarque de frutas, está a falta de informações corretas sobre o peso do pallet (unidade semelhante a um estrado, utilizada para a unitização das cargas).
Para não errar
A Câmara de Comércio Brasil Canadá, por meio de seu departamento de Desenvolvimento de Negócios e também da Comissão de Comércio Exterior, oferece todo o apoio para o produtor brasileiro exportar sem erro. Além da organização de eventos regulares, como o Bate Papo de Comex, são disponibilizados vários materiais informativos. A CCBC ainda ajuda no conhecimento de mercado, planejamento, busca de parceiros e compradores, e promoção comercial. Para o próximo ano, já está confirmada a ida de uma missão brasileira para a SIAL Canadá, uma das mais importantes feiras do setor agroalimentar e de bebidas da América do Norte, que acontecerá em abril em Montreal. A iniciativa será coordenada pela CCBC em parceria com a Abrafrutas e tem o objetivo de divulgar os produtos brasileiros, conforme informou o responsável pela área de Desenvolvimento de Negócios da CCBC, Arminio Calonga Jr.