2º Fórum Econômico Brasil-Canadá discute desafios para crescimento do comércio internacional

Integração de cadeias produtivas, acordos de comércio e ambiente propício a investimentos, com uma agenda positiva microeconômica, foram alguns dos temas destacados pelos painelistas

Por Silvia Pimentel

O fluxo de comércio entre o Brasil e o Canadá encerrou 2023 em US$ 9,15 bilhões, muito próximo do recorde histórico de 2022, quando ultrapassou pela primeira vez a marca de US$ 10 bilhões, e segue com tendência de alta. E há inúmeras oportunidades a serem exploradas para aumentar e fortalecer o intercâmbio bilateral, principalmente nas áreas de inovação e tecnologia. Esse foi um dos temas discutidos durante 2º Fórum Econômico Brasil-Canadá, realizado em 10 de junho pela Câmara de Comércio Brasil-Canadá (CCBC), que também abordou um possível Acordo de Livre Comércio Mercosul e Canadá, inteligência artificial, ESG (Environment, Social and Governance) e transição energética.

“Precisamos avançar na integração de cadeias produtivas, com o aumento das exportações de urânio de Caetité (Bahia), por exemplo, e com isso entrar nas rotas tecnológicas em desenvolvimento do Canadá para a fabricação de pequenos reatores nucleares, uma das soluções para a transição energética”, defendeu Carlos França, embaixador do Brasil no Canadá, durante o evento.

Carlos França, embaixador do Brasil no Canadá

Terceiro maior parceiro comercial do Canadá, atrás dos Estados Unidos e do México, o Brasil assume papel cada vez mais importante e estratégico para o país, na visão de Emmanuel Kamarianakis, embaixador do Canadá no Brasil, que também falou durante o Fórum.  

“Esperamos seguir adiante com outros contratos de comércio, além daqueles fechados por meio da Embraer, que poderão ser também impulsionados via Mercosul”, disse, ao ressaltar a importância do alto nível de investimentos dos dois lados para o fortalecimento das relações bilaterais. De acordo com Kamarianakis, os investimentos do Canadá no Brasil totalizam cerca de 80 bilhões de dólares canadenses.

Emmanuel Kamarianakis, embaixador do Canadá no Brasil

Economia

Keynote speaker do evento, o economista Marcos Lisboa, ex-presidente do Insper, abordou as particularidades do Brasil, como a alta volatilidade, e a necessidade de o setor produtivo e os investidores darem mais atenção aos chamados riscos de cauda.

“É um país marcado por 26 anos de crescimento na faixa de 3% do PIB (Produto Interno Bruto), mas que amargou 14 anos de quedas significativas. É um país onde o gasto público não pode ser cortado por uma questão constitucional e isso é muito difícil de explicar para os investidores. No máximo, é possível controlar a sua evolução”, pontuou.  

Na opinião de Lisboa, o crescimento econômico do país está atrelado a uma agenda microeconômica, composta por regras claras para o mercado de crédito, acesso a capitais, mudanças legislativas e governança das agências reguladoras, por exemplo. “Os países crescem graças a grandes ideias, à inovação, que permite melhorias nos processos, à tecnologia e gestão, desde que as regras do jogo sejam adequadas”, resumiu.

Inteligência artificial

Assunto atual que está no radar das empresas e do governo em todos os países, a inteligência artificial também foi um dos temas abordados no evento. Para o diretor em Inovação Industrial na Vector Institute e CEO da Tech For Good, Warren Ali, o Canadá tem muito a contribuir para as empresas brasileiras nas áreas de tecnologia e proteção de dados e, em nível de governo, na criação de políticas adequadas de segurança.

“O Canadá foi o primeiro país do mundo a pensar em estratégias voltadas para a inteligência artificial, desde 2016, e possui leis muito boas para regular de forma correta a segurança de dados”, disse. Na sua visão, é preciso que as empresas pensem nessa tecnologia como um fundamento importante, que trará resultados a longo prazo e vai contribuir para as suas plataformas de inovação.

Investimentos

No painel “Investimentos: Explorando oportunidades e negócios”, a gerente do Departamento de Investimentos da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos – ApexBrasil, Helena Bonna Brandão, destacou o engajamento do Brasil e do Canadá na agenda de descarbonização, hidrogênio verde, transição energética, biocombustível, P&D e inovação.

Desde 2012, de acordo com os dados apresentados durante o evento, Canadá tem um estoque de investimentos no Brasil de US$ 23,7 bilhões, principalmente nos setores de energia, infraestrutura, petróleo e gás. Desde 2013, o Canadá já investiu em quase 100 projetos no país, totalizando R$ 10 bilhões, que geraram 5 mil empregos no Brasil.

Do outro lado, o estoque de investimentos do Brasil no Canadá – que está entre os 20 destinos mais procurados para os brasileiros abrirem suas operações – soma mais de US$ 2,4 bilhões desde 2012. “Temos trabalhado muito com a temática mineração para atrair investimentos e pretendemos avançar nessa área, recebendo delegações de empresas canadenses e fazendo novas conexões”, disse.

Também participaram do 2º Fórum Econômico Brasil-Canadá Jorge Rave, VP Regional Latam na Export Development Canada; Guillaume Legaré; Head da Toronto Stock Exchange (TSX) e TSX Venture Exchange (TSXV) na América do Sul; Frederico Deodoro, Regional Finance Director na Kinross Brasil Mineração; Verônica Prates, Gerente de Relações Institucionais na Embraer;  Jeremiah O’Callaghan, presidente do Conselho de Administração da JBS e Jair Toledo, gerente de Concepção e Desenvolvimento de Projetos Renováveis na Petrobras.